Prosa Online

O Prosa Online é, como o nome diz, um ambiente virtual para prosear vários assuntos que interagem socialmente pelas redes, com finalidade de compartilhar conhecimentos, ideias, experiências, arte, música, cinema, gramática, literatura, viagens, livros, lugares, pessoas, culturas... perspectivas que sempre agradaram sua idealizadora: Cíntia Luz, ferrenha consumidora de tudo o que está aqui ou quase tudo.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Eu chovo!


Desejo a você: fruto do mato, cheiro de jardim, namoro no portão, domingo sem chuva, segunda sem mau humor, sábado com seu amor, crônica de Rubem Braga, filme antigo na TV, ter uma pessoa especial, e que ela goste de você, música de Tom com letra de Chico, frango caipira em pensão do interior, ouvir uma palavra amável, ter uma surpresa agradável, noite de lua cheia, rever uma velha amizade, ter fé em Deus, rir como criança, ouvir canto de passarinho, sarar de resfriado, formar um par ideal, tomar banho de cachoeira, pegar um bronzeado legal, aprender um nova canção, esperar alguém na estação, queijo com goiabada, pôr-do-sol na roça, uma festa, um violão, uma seresta, recordar um amor antigo, ter um ombro sempre amigo, uma tarde amena, tocar violão para alguém, ouvir a chuva no telhado, vinho branco, bolero de Ravel e muito carinho meu. (CDA)

Lê com Crê do menino-queijo e seu amigo vinho


Feliz Natal!


TIM BURTON PARA PRESIDENTE!

Eu sempre gostei do cineasta Tim Burton, criativo com seu jeito meio bizarro e com uma linguagem visual única. Burton é diretor de grandes filmes como Edward Mãos de Tesoura - um homem pálido com tesouras no lugar das mãos; Batman O Retorno - um super-herói psicopata e que estava antenado no mundo da moda com sua maquiagem exuberante; A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça - a fantasia e o terror me fascinam porque este filme foi baseado em um dos contos do escritor contenporâneo Irvingno; A fantástica fábrica de chocolate - apesar de não gostar de chocolate, sou fã do Johnny Deep (que comparação); Planeta dos Macacos - no mundo primitivo eram eles que nos dominavam; Os Fantasmas Se Divertem - adoro a trilha sonora Day Banana Boat e a carinha da Winona Ryder (será que ela nessa época já era cleptomaniaca? Bisoru-suco...rs); A noiva Cadáver - uma noiva que não se dá conta de que já bateu as botas e mais uma vez o Deep é coajuvante com seu jeito acinzentado de fotografar sua imagem. Como sempre, Burton com seu jeito fértil e alucinado, trabalha neste filme sua imaginação sem perder o carinho e o afeto do desenho animado. Um dos melhores filmes do ramo, já assisti umas 10 vezes com meus sobrinhos. rs
Fiquei mais encantada ainda quando, esta semana, comprei um livrete de pequenas histórias chamado O triste fim do menino ostra & outras histórias, escrito e ilustrado por Burton, o único livro de poesia que li dele (acho que ele só escreveu esse).
O livro é composto por pequenos poemas-contos em versos onde o "pobre" menino é dedicado a contar seu triste fim (sem contar no seu triste início, o pobrezinho do menino é rejeitado pela prórpia mãe por cheirar a "oceano e alga marinha", coitadinho).
No decorrer do livro existem várias outras personagens-crianças esquisitas como: o menino robô, o menino de pregos nos olhos, a garota vudu, o melão melancólico, o menino palito, a garota fósforo...
Quase morri de cólera com tanta bizarrice. Apesar de ser infantil, é quase modo de dizer porque o livro tem cenas de violência familiar, suicídio, sexo (leve e não explícito, mas tem) e traição extraconjugal (só de lembrar morro de rir, o amante da adúltera era um microondas). rs
Estranhezas à parte, o mundo do menino ostra e sua turma é mais real do que parece. Uma história que não fazia lé com cré, com animações surreais e estupendas, sinistro e gótico. A única coisa que motiva a felicidade no fim do livro é saber que o menino Brie (um menino-queijo), encontra a amizade de um vinho.
Posso classificar este livro como macabro, engraçado ou até mesmo excêntrico, mas quem é apreciador de Burton sabe que pela originalidade, ele utiliza a sátira para criticar os valores, padrões e alienação que a sociedade constróe. As histórias de crianças diferentes, grotescas ou até mesmo deformadas que tentam se enquadrar na sociedade em que vivem, é só mais uma reflexão dos desajustes sociais que assistimos enquanto sorrimos.

"Menino Palito gostava da Garota Fósforo
Gostava era pouco
Sua figura esbelta
O deixava louco"

O caderno da vida


Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno, eu me recordo do meu. Com ele eu aprendi muita coisa, foi nele que eu descobri que a experiência dos erros é tão importante quanto às experiências dos acertos. Porque vistos de um jeito certo, os erros nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras. Porque não há aprendizado na vida que não passe pelas experiências dos erros. O caderno é uma metáfora da vida. Quando os erros cometidos eram demais, eu me recordo, que a nossa professora nos sugeria que agente virasse a página. Era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços. Ao virar a página, os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles, agente seguia um pouco mais crescida. O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos. Erros podem ser fontes de virtudes! Na vida é a mesma coisa, o erro tem que estar à serviço do aprendizado, ele não tem que ser fonte de culpas e vergonhas. Nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida. Uma coisa é agente se arrepender do que fez! Outra coisa é agente se sentir culpado. Culpas nos paralisam. Arrependimentos não! Eles nos lançam para frente, nos ajudam a corrigir os erros cometidos. Deus é semelhante ao caderno. Ele nos permite os erros pra que possamos aprender a fazer do jeito certo. Você tem errado muito? Não importa, aceite essa nova página de vida que tem nome de hoje! Recorde-se das lições do seu primeiro caderno. Quando os erros são demais, vire a página!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008



"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"
(Augusto dos Anjos)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Cora, toca outra canção daquela!


Logro êxito quando ouço este nome "Cora Coralina". Como pode, em meio à cidade/vila onde pessoas/preconceitos viviam emoldurados, nascer uma "flor de maracujá" tão linda quanto Aninha? Se fossem destruídas todas as obras da humanidade, e sobrasse apenas "Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais", nada teria perdido.
Busquei mostrar em minha monografia, uma visão regionalística desta obra. O Regionalismo é um período literário essencial na história da nossa literatura e, ao enfatizá-lo utilizei a relação entre o homem e a sua terra de forma abrangente, fazendo uma reconstrução das crenças, costumes e tradições do povo, da goianidade de Cora. Não se trata somente de atribuir valores específicos a terra (Bairrismo), foi preciso compreender como esta renomada poetisa construiu sua poética fazendo uma baliza entre o tempo e o espaço, enfim, tudo o que se constitui como fonte objetiva do processo sócio-cultural da região, deixando o pitoresco de lado, dando ênfase nas particularidades do seu povo, sem esquecer a universalidade dos sentimentos comuns a todos os homens.
No fundo, os conflitos humanos são os objetos de trabalho de Cora, colocando em evidência a sua apaixonante cidade Natal, a Cidade de Goiás - GO. Mas ela não se limita ao mundo regional, relata também sua história, uma mulher dentro da tradição, permitindo trazer à tona a relação luta X poesia, além de revelar valores de uma cultura popular, seja ela na natureza, nas tradições locais, nos costumes, nos modismos lingüísticos, nas emoções transmitidas pelos becos, seu tão amado Rio Vermelho, monumentos históricos, retratando os fatos cotidianos em forma de poesia, um lugar comum, cheio costumes familiares, gestos, formas, figuras, cores, velhos preconceitos sociais que deixaram como legado para a escritora, um exemplo para a 'escola da vida'. Ela deixa transparecer um laço umbilical com a sua terra. Suas raízes mergulham profundamente no meio em que viveu tudo o que se constitui em fonte objetiva do processo sócio-cultural, transformando sua obra em entidade de valorização da vida do seu povo.
A importância de suas obras, crescem na medida em que permite aos seus leitores observarem histórias que a poetisa presenciou ou vivenciou, fatos essenciais para um novo entendimento, diferente do que já se tinha, enquanto filiados do senso comum. Esta vã presunção de compreender tudo que Cora escrevia, não é uma tarefa para mentes comuns.

"Cora, seus carros de boi me amolecem a alma sisuda. Suas ruas, cheias de indispensáveis becos, são convites a uma corrida na chuva julina gelada. As compotas de doce de leite e as cocadinhas suaves com cheiro de cravo ralo me enchem a boca com um gosto antigo. Quisera eu ter sido o sapo que coaxava em sua janela enquanto retocava delicadamente seus poemas, os peixinhos famintos que comiam o lodo viscoso descido de seu jirau direto nas turvas águas do rio vermelho. Mas não, tudo isso é sonho, ilusão passageira de turista acidental. Mas não tão por acaso, um dia tropecei o pensamento em um dos seus encantados cantos que me fizeram imediatamente, tomar um longo gole de saudade nunca vivida e me emocionar com as pedrinhas que corriam serelepes ladeiras abaixo quando o vento forte anunciava as enxurradas benditas. Cora, Cora, Cora, toca outra canção daquela em meu ouvido só para me tirar desse torpor. Pois ainda sinto a verticalidade apaixonante daquela dama, nossa conhecida." (Gil~~~)