Prosa Online

O Prosa Online é, como o nome diz, um ambiente virtual para prosear vários assuntos que interagem socialmente pelas redes, com finalidade de compartilhar conhecimentos, ideias, experiências, arte, música, cinema, gramática, literatura, viagens, livros, lugares, pessoas, culturas... perspectivas que sempre agradaram sua idealizadora: Cíntia Luz, ferrenha consumidora de tudo o que está aqui ou quase tudo.


sábado, 6 de dezembro de 2008

Cora, toca outra canção daquela!


Logro êxito quando ouço este nome "Cora Coralina". Como pode, em meio à cidade/vila onde pessoas/preconceitos viviam emoldurados, nascer uma "flor de maracujá" tão linda quanto Aninha? Se fossem destruídas todas as obras da humanidade, e sobrasse apenas "Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais", nada teria perdido.
Busquei mostrar em minha monografia, uma visão regionalística desta obra. O Regionalismo é um período literário essencial na história da nossa literatura e, ao enfatizá-lo utilizei a relação entre o homem e a sua terra de forma abrangente, fazendo uma reconstrução das crenças, costumes e tradições do povo, da goianidade de Cora. Não se trata somente de atribuir valores específicos a terra (Bairrismo), foi preciso compreender como esta renomada poetisa construiu sua poética fazendo uma baliza entre o tempo e o espaço, enfim, tudo o que se constitui como fonte objetiva do processo sócio-cultural da região, deixando o pitoresco de lado, dando ênfase nas particularidades do seu povo, sem esquecer a universalidade dos sentimentos comuns a todos os homens.
No fundo, os conflitos humanos são os objetos de trabalho de Cora, colocando em evidência a sua apaixonante cidade Natal, a Cidade de Goiás - GO. Mas ela não se limita ao mundo regional, relata também sua história, uma mulher dentro da tradição, permitindo trazer à tona a relação luta X poesia, além de revelar valores de uma cultura popular, seja ela na natureza, nas tradições locais, nos costumes, nos modismos lingüísticos, nas emoções transmitidas pelos becos, seu tão amado Rio Vermelho, monumentos históricos, retratando os fatos cotidianos em forma de poesia, um lugar comum, cheio costumes familiares, gestos, formas, figuras, cores, velhos preconceitos sociais que deixaram como legado para a escritora, um exemplo para a 'escola da vida'. Ela deixa transparecer um laço umbilical com a sua terra. Suas raízes mergulham profundamente no meio em que viveu tudo o que se constitui em fonte objetiva do processo sócio-cultural, transformando sua obra em entidade de valorização da vida do seu povo.
A importância de suas obras, crescem na medida em que permite aos seus leitores observarem histórias que a poetisa presenciou ou vivenciou, fatos essenciais para um novo entendimento, diferente do que já se tinha, enquanto filiados do senso comum. Esta vã presunção de compreender tudo que Cora escrevia, não é uma tarefa para mentes comuns.

"Cora, seus carros de boi me amolecem a alma sisuda. Suas ruas, cheias de indispensáveis becos, são convites a uma corrida na chuva julina gelada. As compotas de doce de leite e as cocadinhas suaves com cheiro de cravo ralo me enchem a boca com um gosto antigo. Quisera eu ter sido o sapo que coaxava em sua janela enquanto retocava delicadamente seus poemas, os peixinhos famintos que comiam o lodo viscoso descido de seu jirau direto nas turvas águas do rio vermelho. Mas não, tudo isso é sonho, ilusão passageira de turista acidental. Mas não tão por acaso, um dia tropecei o pensamento em um dos seus encantados cantos que me fizeram imediatamente, tomar um longo gole de saudade nunca vivida e me emocionar com as pedrinhas que corriam serelepes ladeiras abaixo quando o vento forte anunciava as enxurradas benditas. Cora, Cora, Cora, toca outra canção daquela em meu ouvido só para me tirar desse torpor. Pois ainda sinto a verticalidade apaixonante daquela dama, nossa conhecida." (Gil~~~)